segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Perdoem-me, oh descendentes de Asclépio...

Ontem tive que ir ao hospital Garcia d'Orta.
Não gosto de lá ir. Ninguém gosta. É sempre mau sinal termos que ir ao hospital.
Não era nada de muito grave, felizmente.
Cheguei perto das 23h.
Perdi o embate entre o Zezé Camarinha e os outros bacocos da Casa do Putedo, Burredo, Degredo, do que lhe queiram chamar.
Só isso já deixaria o comum dos mortais em brasa!
Por ser Domingo, perdi também todos os programas sobre futebol onde se discute o que toda a gente já sabe, perdi mais 2h sobre os putos do Meco, as praxes académicas e o reaparecimento do bebé madeirense.
Como nada de importante sobre a vida em geral dos portugueses se debate na TV, acho que felizmente não perdi mais nada do que tempo numa sala de espera fria e desconfortável dum hospital.
45 minutos depois de ter feito a inscrição de um bebé de 6 meses (sim, porque estamos a falar de uma ida à urgência pediátrica), fui chamado.
A primeira coisa que oiço da boca da xotora da triagem após descrever os sintomas da criança foi:
"As bronquiolites curam-se em casa, ok?"
Passadas 3h, estava em casa com o recituário...vapores!!
Apraz-me dizer o seguinte sobre isto e dirijo-me aos doutores que servem nos hospitais públicos deste pobre país:
-Eu compreendo que não gostem de trabalhar de noite, que sejam mal pagos e que vos tenham retirado alguns direitos, por culpa da crise e da troika e das politicas fascistas deste Governo e do sr. Paulo Macedo.
Mas, eu não sou o sr. ministro, nem faço parte deste Governo, nem votei neles, nem defendo as políticas de saúde praticadas pelo vosso ministério.
- O que eu quero é que me tratem bem, porque no fundo, sou um dos vossos patrões.
Se eu soubesse diagnosticar uma unha encravada, não ia ao hospital com 2 putos às costas até às 3 da manhã.
Se eu soubesse quais os sintomas de uma bronquilite e pudesse receitar tratamentos ou medicamentos, era um colega vosso. Mas, apesar de muitos anos na escola (alguns no mesmo ano para perceber bem a matéria), não sou. Logo, dirijo-me ao hospital.
Peço desculpa por incomodar.
Garanto-vos que foi a última vez.
Aguardar 45 minutos com uma criança nos braços, enquanto espero que se dignem a preparar o medicamento que se coloca no aerosol, é manifestamente pouco tempo. E agradeço humildemente terem-me deixado aguardar dentro das vossas instalações.
O que gente incómoda como eu merece é, despido da cintura para cima, carregar ao colo a criança de 6 meses, também ela despida à volta do hospital enquanto, vós preparais a mistura salvadora. Durante horas.
Não é ficar de pé num local cravado de pirralhos doentes a tossirem uns para cima dos outros.
Já aqui mencionei que não sou licenciado em Medicina, mas já incomodo médicos há muitos anos. E nunca me lembro de me terem feito despir todo, para me verem os ouvidos. Eu sei que os canais dos ouvidos ligam à boca e ao nariz, mas presumo que uma bronquilite esteja relacionada com os brônquios e duvido que estes se consigam ver pelas orelhas da criança.
A não ser que fosse a xotora a entrar na moda e estar a praxar-me.
Mais uma vez agradeço o facto de ter sido suave connosco.
Podia ter-nos mandado ir ao Porto Brandão tomar banho, mas preferiu dizer-nos que o facto de a mãe e o irmão da criança estarem com os mesmos sintomas, eram episódios não relacionados entre si e mandar a adulta para a Urgência Geral (com 12 horas de espera) e o pequeno tomar Ben-U-Ron, mesmo sem este ter entrado na sala.
Mais uma vez obrigado.

Prometo-lhes que não os torno a incomodar.
Passarei a usar os seguros de saúde que pago e a arriscar-me a ter um tratamento humano e digno. atento e preocupado.

Perdoai-me, oh semi-deuses da medicina portuguesa...

Sem comentários: